MORAL INDIVIDUAL, COMPORTAMENTO E VALORES

Desde 1928, os psicólogos sociais têm sido intrigados pela relação entre valores e comportamentos morais. Hartshorne e May, em seus estudos sobre a natureza do caráter, identificaram inconsistências surpreendentes entre valores e ações morais. Ao avaliar a desonestidade – trapaça, mentira e roubo – em centenas de crianças, descobriram que a situação, e não a personalidade, muitas vezes determinava o comportamento imoral. Medidas de valores morais, conhecimento e julgamentos sobre dilemas morais estavam fracamente relacionadas ao comportamento real, uma constatação que foi frequentemente reafirmada em pesquisas subsequentes.

No entanto, uma abordagem promissora surgiu em 1980 com Forsyth, que sugeriu que a moral individual pode ser compreendida através de duas dimensões: relativismo e idealismo. Algumas pessoas se apegam a regras éticas universais, enquanto outras adotam uma postura mais relativa, questionando tais princípios universais. Enquanto alguns têm um forte senso de bem-estar para com os outros (idealismo), outros acreditam que às vezes é necessário causar dano para alcançar um bem maior.

Forsyth propôs uma classificação em quatro partes com base nessas dimensões, sendo:

  • Situationistas (alta relatividade e idealismo): enfatizam que as regras morais podem variar conforme a situação.
  • Absolutistas (baixa relatividade e alto idealismo): acreditam em princípios éticos universais.
  • Subjetivistas (alta relatividade e baixo idealismo): veem decisões morais como juízos individuais e subjetivos, rejeitando regras universais.
  • Excepcionistas (baixa em ambas as dimensões): aceitam regras morais, mas acreditam que exceções podem ser feitas se a situação exigir.

 

Forsyth também desenvolveu o “Ethics Position Questionnaire” ou Questionário de Posição Ética (EPQ) para avaliar a filosofia moral pessoal. Através dele, os participantes indicam sua aceitação de itens que variam em termos de relativismo e idealismo. No geral, aqueles que pontuam alto em idealismo mostram uma grande preocupação com o bem-estar dos outros, enquanto os que pontuam alto em relativismo tendem a rejeitar normas universais.

O desenvolvimento do “Ethics Position Questionnaire” foi motivado pela curiosidade sobre as reações diversas a um dos estudos psicológicos sociais favoritos do autor, o estudo de Milgram (1963) sobre obediência à autoridade. Enquanto alguns críticos condenaram Milgram por enganar as pessoas e colocá-las em uma situação estressante, outros defenderam que as descobertas justificavam o desconforto temporário experimentado pelos sujeitos.

Para entender essa variação de opiniões, Forsyth e Schlenker analisaram o grau de acordo com 50 itens relacionados a análises filosóficas de ética. Identificaram duas dimensões robustas: idealismo-pragmatismo, relacionado à preocupação com as consequências, e regra-universalidade (relativismo), relacionado a princípios morais. Forsyth reformulou os itens para que se aplicassem a qualquer domínio comportamental. Assim, o “Ethics Position Questionnaire (EPQ)” incluiu 20 itens, 10 para cada escala de idealismo e relativismo.

Mais recentemente, Forsyth colaborou com o Dr. O’Boyle para desenvolver uma versão mais curta do EPQ, o EPQ5. Eles disponibilizaram um link para as pessoas completarem o EPQ e aprenderem suas pontuações em idealismo e relativismo. Quanto à utilização do EPQ em pesquisa, os participantes geralmente indicam o grau de concordância com cada item usando uma escala de 1 (discordo) a 9 (concordo). Não existem “normas” específicas para interpretar as pontuações, mas os pesquisadores podem comparar suas descobertas a uma taxa base ou à mediana da população estudada.

Forsyth também forneceu algumas recomendações analíticas. Apesar da maioria dos pesquisadores não testar a interação entre idealismo e relativismo, o autor sugere que essa interação é importante e deve ser considerada. Ele apresenta três abordagens possíveis: dividir pela mediana das duas dimensões, escolher os “pontuadores extremos” ou conduzir uma análise de regressão múltipla moderada.

O Questionário de Posição Ética de Forsyth (EPQ) é uma ferramenta amplamente reconhecida usada para medir diferenças individuais em filosofias morais pessoais. Desenvolvido por Donelson R. Forsyth, o EPQ categoriza indivíduos em uma de quatro posições éticas com base em suas respostas a uma série de declarações. Estas quatro posições são:

Idealismo – Esta dimensão reflete a extensão em que um indivíduo acredita que resultados desejáveis podem, e devem, sempre ser obtidos ao tomar decisões morais. Idealistas convictos acreditam que o dano sempre pode ser evitado e que as pessoas devem sempre buscar produzir os resultados mais positivos. Já os idealistas menos convictos são mais pragmáticos, reconhecendo que, às vezes, o dano é inevitável na tomada de decisões morais.
No cerne do conceito de Idealismo está a crença no potencial de alcançar os resultados mais positivos e sem danos em cada situação moral. Esta dimensão gira em torno do otimismo ou pessimismo de um indivíduo em relação aos resultados de ações morais.

  • Idealistas Convictos: Indivíduos com um alto grau de idealismo acreditam fervorosamente na possibilidade de alcançar consistentemente os melhores resultados. Eles têm a convicção de que escolhas morais podem perpetuamente prevenir danos e levar a consequências benéficas. Para eles, toda situação, não importa quão complexa, tem uma solução que pode produzir os resultados mais positivos.
  • Idealistas Menos Convictos: Aqueles que se inclinam mais para um idealismo menos convicto adotam uma perspectiva mais prática e, às vezes, cínica. Eles reconhecem a natureza intrincada da vida e as inúmeras nuances que colorem dilemas morais. Embora também desejem o melhor, entendem que, às vezes, independentemente da intenção ou esforço, decisões podem levar a consequências indesejáveis. Seu ponto de vista abrange a realidade, por vezes dura, de que nem toda escolha moral pode ser isenta de danos.

 

Relativismo – Esta dimensão refere-se à extensão em que um indivíduo acredita que princípios morais são universais (não-relativos) ou são dependentes da situação (relativos). Relativistas convictos acreditam que ações morais dependem do contexto, enquanto relativistas menos convictos acreditam em princípios morais universais que são aplicáveis em diversas situações.
Relativismo mergulha profundamente no debate entre princípios morais universais versus dependentes da situação. É uma exploração de se existem padrões morais fixos ou se a moralidade é um conceito fluido, mudando de acordo com as nuances de cenários individuais.

  • Relativistas Convictos: Pessoas que se identificam com o relativismo convicto defendem a visão de que o contexto é rei. Argumentam que o que pode ser moralmente justificável em uma situação pode não ser em outra. Seu compasso moral não é fixo; em vez disso, pivota com base nas circunstâncias e fatores únicos em jogo. Acreditam que julgamentos morais devem ser refratados de generalizações e vistos através da lente de especificidades situacionais.
  • Relativistas Menos Convictos: Estes indivíduos defendem a existência de princípios morais universais. Em seus olhos, certas ações ou decisões são intrinsecamente certas ou erradas, independentemente do contexto em que são definidas. Argumentam por um framework moral consistente, que não oscila com circunstâncias em mudança. Para os relativistas menos convictos, alguns valores e princípios são atemporais e devem ser aplicados uniformemente em diversas situações.

Com base na combinação dessas duas dimensões, os indivíduos podem ser classificados em um de quatro tipos éticos:

Absolutistas (Alto Idealismo, Baixo Relativismo)

Absolutistas são os portadores da tocha de padrões morais inabaláveis. Eles são firmes na crença de que existem certos princípios morais universais que são imutáveis, independentemente das circunstâncias. Além disso, são caracterizados por um forte otimismo sobre ações morais. Eles acreditam que, com a intenção e escolha corretas, os melhores e mais desejáveis resultados estão sempre ao alcance. Em sua visão de mundo, existe um roteiro moral definitivo, guiando os indivíduos para as melhores consequências possíveis em todas as situações.

Crença Central
Absolutistas defendem a filosofia de que existem regras ou princípios morais fixos e imutáveis que se aplicam universalmente, independentemente da situação.

  • Portadores da Tocha de Padrões Morais Inabaláveis: Esta frase enfatiza a firmeza com que os Absolutistas mantêm suas crenças morais. Assim como um portador da tocha lidera o caminho com uma luz, os Absolutistas lideram com suas fortes convicções morais.
  • Princípios Morais Universais: Absolutistas acreditam em padrões morais que são “universais”, aplicáveis em todos os lugares e a todas as pessoas, independentemente de diferenças culturais, sociais ou individuais.
  • Otimismo sobre Ações Morais: Absolutistas são não só rigorosos em seus padrões morais, mas também altamente otimistas. Eles acreditam que, seguindo esses princípios universais, o resultado será sempre o melhor possível.
  • Roteiro Moral Definitivo: Para os Absolutistas, a moralidade não é um conceito vago ou abstrato. É como um guia claro. Assim como um roteiro direciona viajantes ao seu destino, os Absolutistas acreditam que seus princípios morais fornecem orientação clara sobre como agir corretamente em qualquer situação.

 

Em essência, Absolutistas depositam uma imensa fé no poder dos princípios morais inabaláveis. Eles estão confiantes de que, aderindo a esses princípios, é possível navegar pelas complexidades da vida e consistentemente chegar aos resultados mais positivos.

Subjetivistas (Alto Idealismo, Alto Relativismo)

Equilibrando-se entre um otimismo inabalável e uma abordagem flexível ao julgamento moral, os Subjetivistas têm uma posição filosófica interessante. Eles possuem a esperança inflexível de que todo dilema moral tem uma solução que pode levar ao melhor resultado possível. No entanto, ao contrário dos Absolutistas, eles acreditam que a moralidade de uma ação não é imutável, mas varia dependendo das circunstâncias. Para eles, enquanto o objetivo permanece consistente – alcançar os melhores resultados – o caminho para isso pode mudar com base no contexto situacional.

Crença Central
Subjetivistas acreditam que, embora os melhores resultados morais sejam sempre alcançáveis, a maneira como são alcançados pode variar com base nas circunstâncias únicas de cada situação.

  • Equilíbrio entre Otimismo Inabalável e Flexibilidade: A palavra “equilíbrio” dá a ideia de alguém equilibrando-se entre dois pontos de vista distintos. Os Subjetivistas possuem um otimismo forte e inabalável sobre os resultados morais, mas também têm uma abordagem flexível ao julgamento moral.
  • Esperança Inabalável em Resultados Positivos: Subjetivistas nunca vacilam em sua esperança e crença de que um resultado positivo é alcançável em qualquer situação.
  • Moralidade Não é Imutável: Ao contrário dos Absolutistas, que acreditam em princípios morais imutáveis, os Subjetivistas acreditam que a moralidade pode ser fluida.
  • Objetivo Consistente, Rota Variável: Este conceito sugere que, para os Subjetivistas, o melhor resultado moral pode ser alcançado por várias ações ou decisões morais, dependendo do contexto.

Em resumo, os Subjetivistas são caracterizados por sua combinação única de esperança inabalável em alcançar os melhores resultados morais e sua abordagem flexível para determinar o que é moralmente correto, que eles acreditam poder mudar dependendo da situação em questão. Isso os torna adaptáveis e de mente aberta em suas decisões éticas.

Excepcionistas (Baixo Idealismo, Alto Relativismo)

Os Excepcionistas operam com uma aguda percepção das realidades pragmáticas da vida. Eles entendem que nem toda escolha moral pode levar a um resultado perfeito. Às vezes, o dano é um subproduto inevitável das decisões. No entanto, também acreditam que as decisões morais devem ser avaliadas com base no contexto. O que é certo em uma situação pode não ser em outra. Assim, enquanto reconhecem os inconvenientes inevitáveis em algumas decisões morais, eles também argumentam contra julgamentos morais universais.

Crença Central
Os Excepcionistas reconhecem que dilemas morais podem, às vezes, resultar em resultados menos que ideais, mas enfatizam a importância de avaliar decisões com base em seus contextos específicos.

  • Senso agudo das realidades pragmáticas: Excepcionistas tendem a abordar dilemas morais com uma perspectiva realista. Eles não são excessivamente idealistas ou ingênuos sobre as complexidades da vida. Em vez disso, reconhecem que o mundo é frequentemente preenchido por áreas morais cinzentas e que decisões podem ter consequências multifacetadas.
  • Reconhecimento de Resultados Imperfeitos: Enquanto todos gostariam que toda escolha moral levasse aos melhores resultados possíveis, os Excepcionistas entendem que nem sempre isso é viável. Estão cientes de que, às vezes, as decisões, mesmo feitas com as melhores intenções, podem resultar em danos ou consequências negativas não intencionais.
  • Relatividade das Decisões Morais: Com seu alto relativismo, os Excepcionistas enfatizam a importância do contexto situacional nas avaliações morais. Acreditam que ações e decisões não podem ser cegamente rotuladas como “certas” ou “erradas” sem considerar as circunstâncias específicas que as cercam.
  • Argumento contra Julgamentos Universais: Os Excepcionistas se opõem à noção de um código moral universal que se aplica uniformemente em todas as situações. Acreditam que decisões e ações morais precisam ser entendidas dentro de seus contextos únicos, e, portanto, um sistema de julgamento universal não é nem preciso nem justo.

 

Em essência, os Excepcionistas oferecem uma abordagem equilibrada e adaptativa à ética. Eles combinam uma compreensão realista dos potenciais inconvenientes das escolhas morais com um método de avaliação flexível e orientado pelo contexto. Isso os torna particularmente hábeis em navegar por cenários morais complexos onde códigos éticos rígidos podem falhar.

Situacionistas (Baixo Idealismo, Baixo Relativismo)

Os Situacionistas possuem uma combinação única de crenças. Por um lado, aderem à existência de certos princípios morais universais e inegociáveis. Argumentam que algumas ações são intrinsecamente certas ou erradas, independentemente do contexto. No entanto, também entendem as complexidades das decisões morais e reconhecem que lutar pelo melhor resultado nem sempre resulta em uma conclusão livre de danos. Embora acreditem em uma estrutura moral padrão, também entendem que, às vezes, a decisão ideal, de acordo com esses padrões, pode levar a consequências indesejadas.

Crença Central
Os Situacionistas acreditam na existência de padrões morais definidos, mas também reconhecem que seguir esses padrões não garante resultados perfeitos em todos os cenários.

  • Crença em Princípios Morais Universais: Os Situacionistas afirmam a presença de certos padrões morais que são inegociáveis e universais. Isso significa que esses padrões devem, idealmente, aplicar-se através de culturas, situações e períodos de tempo. Acreditam que certas ações, por sua própria natureza, são certas ou erradas, independentemente do contexto em questão.
  • Reconhecimento das Complexidades Morais: Mesmo com sua crença em princípios universais, os Situacionistas não fecham os olhos para a natureza intrincada dos dilemas éticos. Entendem que as decisões morais estão repletas de desafios, incertezas e muitas vezes consequências imprevistas.
  • Lutar pelo Melhor Não Garante Perfeição: Apesar de se apegarem a padrões morais universais, os Situacionistas não são excessivamente idealistas. Eles compreendem que até as decisões mais bem-intencionadas, enraizadas em sólidos princípios morais, podem, às vezes, levar a danos não intencionais ou resultados negativos.
  • Equilibrando Estrutura com Realidades: Os Situacionistas mantêm um delicado equilíbrio entre defender seu código moral e navegar nas implicações do mundo real dessas crenças. Enquanto defendem veementemente a existência de um código moral padrão, também são pragmáticos o suficiente para perceber que as decisões feitas dentro deste código nem sempre produzem os resultados mais desejáveis.

Em resumo, os Situacionistas representam uma fascinante interseção entre crenças morais firmes e compreensão pragmática. Eles defendem a causa dos padrões morais universais, enquanto também estão cautelosamente cientes das intrincadas imperfeições dos cenários éticos do mundo real. Esta dualidade em sua abordagem permite que permaneçam fundamentados, mas principais em seus julgamentos morais.

Conclusão
O EPQ pode ser útil para entender as crenças morais pessoais ou para fins de pesquisa para entender as posições éticas de diferentes grupos de pessoas. Pode ser especialmente perspicaz em contextos como ética empresarial, onde entender a filosofia moral de um indivíduo ou grupo pode ser crucial para prever ou influenciar o comportamento de tomada de decisão.

Referências:

A Theory of Ethics Positions, https://donforsyth.wordpress.com/ethics/the-epq/, acessado em 12 de setembro de 2023.
Ethics Position Questionnaire, https://donforsyth.wordpress.com/ethics/ethics-position-questionnaire/, acessado em 12 de setembro de 2023.
O’Boyle, E. H., & Forsyth, D. R. (2021). Individual differences in ethics positions: The EPQ-5. PloS one, 16(6), e0251989.

 

 

Petter Anderson Lopes

Petter Anderson Lopes

Perito Judicial em Forense Digital, Criminal Profiling & Behavioral Analysis, Análise da Conduta Humana

Especialista em Criminal Profiling, Geographic Profiling, Investigative Analysis, Indirect Personality Profiling

CEO da PERITUM – Consultoria e Treinamento LTDA.

Criminal Profiler e Perito em Forense Digital | Criminal Profiling & Behavioral Analysis | Entrevista Investigativa | OSINT, HUMINT | Neurociências e Comportamento | Autor, Professor

Certified Criminal Profiling pela Heritage University(EUA) e Behavior & Law(Espanha), coordenado por Mark Safarik M.S., V.S.M. Supervisory Special Agent, F.B.I. (Ret.) e especialistas da Sección de Análisis del Comportamiento Delictivo (SACD - formada por expertos en Psicología y Criminología) da Guarda Civil da Espanha, chancelado pela CPBA (Criminal Profiling & Behavioral Analysis International Group).

Certificado em Forensic Psychology (Entrevista Cognitiva) pela The Open University.

Certificado pela ACE AccessData Certified Examiner e Rochester Institute of Technology em Computer Forensics. Segurança da Informação, Software Developer